quarta-feira, 8 de maio de 2013

Salvo em Brasília

Paulo Werneck

Desculpem-me os brasilienses, mas não gosto de Brasília, detesto Niemeyer e mais ainda Lúcio Costa, com seus setores de lápis de côr sul e de cartas de baralho norte.

É verdade que sempre fui muito bem recebido pelos moradores da cidade, que considero dos mais hospitaleiros do país, mas mesmo isso não me faz gostar de ir a Brasília, ter que morrer numa grana preta (eta expressão políticamente incorreta!) para pagar uma noite num hotel chinfrim e pior, quando se desce ao térreo não há um bar, uma livraria, uma banca de jornais, mas apenas mais hotéis, por conta das idéias estapafúrdias do mencionado urbanista equivocado.

Comer em Brasília tem altos e baixos, os da terra devem saber os segredos do lugar, mas desisti de comer carne no Planalto Central, pois gosto da carne de mal passada para pior e, por mais claro que eu seja ao falar com o garçom, ela invariavelmente é servida ao ponto para bem passado, arghhh.

Recentemente vivi a situação surreal de ter de ir para uma reunião, marcada em cima da hora: o hotel decente mais barato custava duas das minhas diárias, os indecentes - aqueles dos tapetes mal cheirosos, mofados, instalados sabe-se lá quando, custavam quase a diária inteira.

Eis que, quando estava entrando na prorrogação do segundo tempo, um amigo me dá pousada, com o senão de que esse amigo não estaria na cidade. Era só a pousada, sem companhia, mas, mesmo assim, a salvação da lavoura.

Cheguei, trabalhei, fui para "casa" com fome, com sede, cansado, tomei um banho e desci para comer alguma coisa sozinho, mas nada me apetecia: só via bares tipo lanchonete, onde a pièce de résistance seria um hamburguer.

Todavia caminhei, quase automaticamente, até o fim do bloco, vi uma cadeiras de bar, aparentando pertencerem a um lugar de respeito.

Pedi um chope no capricho, veio uma tulipa com três dedos de espuma cremoooooosa. Arrisquei pedir um filé alto com alho, abandonando minha decisão anterior, tal a fé que coloquei no lugar, e não me decepcionei. O filé vinha como devia ser, mal passado, macio, bem temperado, mas o alho, ah, o alho, de comer de joelhos.

O nome do lugar é Armazém do Ferreira, que se diz ficar na esquina mais carioca de Brasília, mas, confesso, mesmo no Rio é difícil beber um chopp tão bem tirado.

O endereço? Uma sopa de letrinhas: SCLN 202 - Bl. A - Lj. 1. Telefones: (61) 3327-8342 e 3327-0167