segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Quem reboca a moto da polícia de trânsito?

Paulo Werneck

Exatamente ontem comentei sobre o estacionamento irregular de um caminhãorreboque. Hoje a vedete é uma singela motocicleta, também das forças da lei e da ordem, parada de maneira a atrapalhar da melhor maneira possível a travessia dos pedestres que usarem a faixa zebrada a isso destinada.


Fica a pergunta que não quer calar: quem reprime o comportamento irregular no trânsito das viarturas policiais? Choque de ordem nas forças policiais!

Veja também: Quem reboca o caminhãorreboque?

domingo, 18 de dezembro de 2011

Quem reboca o caminhãorreboque?

Paulo Werneck

Sábado à tarde, 17 de dezembro, dirigia-me mais uma vez para assistir a música de primeira linha - desta vez choro - na Livraria Arlequim, no Paço Imperial. É um programa que não recomendo, caso contrário meus milhares de leitores ocuparão todas as mesas e terei de reservar um lugar com um anoluz de antecedência...

Como sou um feliz não possuidor de veículo automotor, desci do ônibus em frente do Tribunal, na avenida Presidente Antônio Carlos e segui pela calçada os metros que faltavam, até ter de esperar um cadeirante passar espremido entre o caminhãorreboque da Prefeitura e o meiofio.



Quem desejar pode ampliar a fotografia, clicando nela, mas facilito o trabalho dos leitores: no caminhão está escrito "MANTENHA O REBOQUE VAZIO, ESTACIONE CORRETAMENTE".

Estaria o veículo estacionado corretamente?

Não. Apesar de estar em uma via pública, esse trecho foi separado do restante da rua por meio de barras de ferro, perfeitamente visíveis nas fotos, ou seja, o cuidadoso motorista passou por cima da calçada, com bastante perícia, para nada danificar.


Seria necessário tanto trabalho?

Também não, pois o centro da cidade, sábado à tarde, está entregue às moscas, locais para estacionar o guincho não faltavam.

Falei com guardas municipais de trânsito que estavam próximos. Sequer acreditaram que o caminhão tivesse subido na calçada, mesmo vendo a foto e estarem a uns 30 metros do local. Argumentaram que não havia outro lugar, apesar de a rua ao lado do Palácio estar praticamente vazia.

Fica a pergunta: quem pode dar "choque de ordem" na desordem dos choques de ordem da Prefeitura?

Observação: na segunda fotografia vê-se perfeitamente, na frente do caminhão, o trecho da calçada "inexistente" segundo os briosos guardas municipais.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Hora do Lanche

Paulo Werneck

Estava em um vôo da Tam, "paixão por voar e servir", no início de um fim de semana que prometia - e cumpriu - ser excelente.

Início conturbado: resolver pendências; obter transporte para o aeroporto - táxis passando lotados; fazer o check-in; embarcar em cima da hora, estômago roncando, hora do almoço já vencendo - ainda cultivo esse hábito burguês das três refeições...

A bordo, revista "Tam nas Nuvens", jornal "Primeira Chamada", caramelos gentilmente distribuídos pela comissária. Bons ventos chegando.

Lendo a revista, fico sabendo que existe à venda no Brasil garrafas de uísque ao módico preço de dez mil reais.

Lendo o jornal, tomo ciência de que apenas três dos "Leading Hotels of the World" possuem restaurantes com três estrelas Michelin em suas instalações. Informação deprimente. Terei muito trabalho para planejar uma viagem de sonho nessas difíceis condições.

Começa o serviço de bordo. Não espero ser servido com uísque quinhentas estrelas, nem almoçar uma refeição gourmand, elaborada por um chef cordon-bleu: trata-se de um vôo doméstico de pouco mais de duas horas, se for descontada a meia hora em terra sem ar condicionado. Um bom sanduíche quente já estaria de bom tamanho.

Recebo então uma embalagem em cujo rótulo está escrito "Hora do lanche". Mas não é hora do almoço?


Não desesperemos! Posso ver perfeitamente o desenho de alguns cookies bastante apetecíveis, a embalagem é grande, deve conter muitos de,es, um sanduíche frio, talvez até mesmo um bombom! Há que esquecer o sanduíche quente, mas não é preciso perder a esperança...

Abramos e vejamos o que tem dentro. Tam tam tam tcham!


Que beleza! Um queijinho - 20g, quatro biscoitos salgados - 15g, meia fatia de bolo - 30g! Parecia estar na classe executiva rodoviária!

Além disso, senti-me ainda mais culpado. Não bastassem as emissões de CO2 das turbinas do avião, ainda foi produzido muito lixo plástico, para cada passageiro três embalagens individuais, uma bandeja e a embalagem exterior. Tudo para empacotar 65g de, digamos, alimento.

Ah, a revista mostrava diversas seleções musicais, até boas, mas os fones não embarcaram... Quantas voltas no caixão deve dar o saudoso comandante Rolim...

domingo, 9 de outubro de 2011

Brincadeiras de Crianças

Paulo Werneck>

Sandra Guinle: Cenas Infantis
Fonte: www.mac.usp.br

Hoje fui a uma festa infantil. Havia, como é comum hoje em dia, animadores para as crianças. Havia, como é extremamente raro, animadores respeitosos às crianças e, porque não dizer, aos adultos.

Em primeiro lugar, não usaram equipamento de som. As crianças ainda não são surdas e o morador do 23º andar não precisa ser obrigado a ouvir as músicas da festa. Além disso, os animadores, não usando microfones, ficaram mais próximos às crianças.

Em segundo lugar, estavam mais preocupados em brincar e fazer atividades com as crianças, algo muito distante da relação palco e platéia. Como objetos lúdicos usaram brinquedos artesanais, pequenos instrumentos musicais. Principalmente, não houve piadas de duplo sentido, nem qualquer grosseria, que estão ficando comuns. A gentileza foi a tônica da atividade.

Foi muito agradável observá-los trabalhar, interagindo com as crianças, e não ouvir nenhuma gritaria nem som alto. Os adultos também puderam conversar animadamente, num saudável convívio.

Finalmente, resta prestigiar a equipe, divulgando nomes e formas de contato. Trata-se da Pingos de Cor, Festas Infantils, de André Gilson e Rennata Feitosa. Telefone 21-8145-0289, e-mail pingosdecor@hotmail.com

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Apresentações extras de Dido e Enéias

Paulo Werneck

Assisti Dido e Enéias sexta-feira. Espetáculo com recur$o$ limitados, mas resultado mais que prazeroso. Lotado. A estréia também lotou. Haverá duas sessões extras, uma sábado e outra domingo. Os horários ficam sendo, no sábado, 19:30 e 21:00; no domingo, 17:00 e 18:30. Muita generosidade do elenco, tendo em vista que o intervalo para "descanso" será minimo e só receberão, pelo esforço extra, merecidas palmas. Sugiro chegar com antecedência pois as senhas de entrada evaporam.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Ópera Barroca

Paulo Werneck

Este escriba tem suas preferências e delas não abre mão. Uma delas é a exímia flautista Laura Rónai, professora doutora, de muitos e variados talentos, quem irá dirigir a orquestra barroca da Unirio na apresentação da ópera Dido e Enéas, composta por Henry Purcell.

Acreditando no repto diga-me com quem andas, dir-te-ei quem és, só posso imaginar que os demais alunos e professores que apresentarão o espetáculo nada deixarão a desejar. Os incrédulos com esta rasgação de seda poderão ampliar a imagem acima, ler os nomes ali inscritos e só lhes restará me dar razão...

Para os apressados, ou com computadores e acessos lentos, informo que serão quatro apresentações, de 6 a 9 de outubro, uma por dia, às 19:30, exceto no domingo, quando será mais cedo, às 17:00, sempre no Teatro Paschoal Carlos Magno, Avenida Pasteur 436 fundos, Urca, Rio de Janeiro, RJ. A entrada é gratuita.

Encontrar-nos-emos lá.

domingo, 7 de agosto de 2011

Viajar de Trem

Paulo Werneck

Trem de passageiros da RFFSA estacionado em Cruzeiro
Fonte: http://cfvv.blogspot.com

A questão do trem bala está posta na mesa, mesmo pouco discutida, mas enquanto a sociedade se omite, o projeto avança, um belo dia pode ser implementado e então só restará sorrir ou chorar, conforme o gosto do freguês.

Neste momento estou contra, mas gente que respeito muito, como Miguel do Rosário, está a favor: veja Discutindo o trem-bala  no seu blog Óleo do Diabo.

Meu ponto, meio prosaico, é simples: saudade do trem noturno que ligava Rio e São Paulo (veja depoimentos em Do Fundo do Baú - Trem Noturno Rio-São Paulo).

A viagem era ótima, mas não se sabia o horário de chegada, podia ser cedo ou tarde, dependia de uma série de fatores, eis que a má conservação da linha, a sua não duplicação, o compartilhamento com trens de carga, etc, tudo influía.

Além disso as passagens, pelo menos nos fins de semana, tinham que ser compradas com antecência e exclusivamente na gare, enquanto as outras vias, aérea e rodoviária, as vendiam por diversos meios.

O trem era meio caído, mal conservado, mas mesmo assim muito romântico e confortável. Quando ainda haviam poltronas, eram imensas, nada a ver com os assentos dos ônibus, mesmo os ditos leito, menos ainda com as latas de sardinha voadoras, apelidadas de aviões.

As viagens foram encerradas e depois voltaram sob administração privada, que resolveu as vender num "pacote de sonho", jantar incluso: stroganoff! Ridículo. Noção completamente bizarra e desvairada do que venha a ser elegância. Não admira o fracasso da empreitada.


Roteiro do trem noturno, do verso da passagem
Fonte: fotolog.terra.com.br/outromundo:815%29

Basta ser feito o básico: manutenção correta da linha e das composições, o que permitiria aos trens trafegarem na velocidade máxima e garantiria conforto aos passageiros.

A distancia total, conforme vemos no mapa, é de apenas 474 km, o que exige menos de 120 km/h de velocidade para ser percorrida em quatro horas, e menos de 100 km/h para ser atingida em cinco, o que não deve ser difícil, sem engarrafamentos, sem sinal, sem paradas para lanche.

A certeza da chegada no horário, sem depender de teto (preocupação de quem vôa), a localização central das estações, eliminando engarrafamentos, e a duração da viagem adequada, podendo-se almoçar, lanchar, trabalhar, dormir, atrairia a preferência dos passageiros, sem o investimento requerido pelo trem bala.

Esses recursos poderiam ser aproveitados na expansão da rede ferroviária de passageiros, de modo a ligar pelo menos todas as capitais.

Em havendo escolha, trem bala em duas horas ou trem "popular" em cinco, preferirei o menos rápido, para apreciar a viagem e descansar. Talvez esteja ficando velho...

sexta-feira, 25 de março de 2011

Ler Comer Ouvir

Paulo Werneck

Martin (bandoneón) & Josué (piano)

Meu programa de sábado costuma ser, quando posso, assistir um show de música - tango, jazz, choro - na Livraria Arlequim, entre livros, após degustar algo, certamente bebendo uma cervejinha ou um vinho.

O tango, meu preferido, costuma rolar no primeiro sábado de cada mes, algumas músicas comparecendo quase sempre, outras variando o repertório. Adiós Nonino, El dia que me quieras, Libertango são figuras marcadas, mas Cambalache, sempre atual, também já nos recordou os desatinos da moderna sociedade.

A livraria faz jus ao dístíco grafado em letras garrafais na parede sobre o bar: LER COMER OUVIR LER COMER...

Não só da venda de livros,CDs e DVDs, de um bar com serviço às vezes atrapalhado, mas sempre atencioso, nem de um show íntimo e agradável, que a livraria, já extensão do meu lar, é feita. Nela há sentimento, há respeito.

Na última vez que lá estive, em companhia de S., adentrou o recinto uma menina desgrenhada, menos de dez anos, vendendo chicletes. Não se comportou bem, nem o saberia fazer, não era da alta, e mesmo os abonados podem deixar muito a desejar. Não foi retirada aos safanões por um segurança brutamontes. Longe disso. Para cuidar do caso materializou-se um funcionário, dos mais jovens, que procurou contornar o problema, tentando evitar que a menina se comportasse de modo realmente prejudicial, mas tolerando, com infinita paciência, as pequenas, digamos, disfuncionalidades do comportamento dela.

O problema foi enfim resolvido quando alguém adquiriu todo o estoque de chicletes - seis - com o que a menina, sem ter o que fazer, apesar de ter sido convidada a ouvir o show, retirou-se de moto próprio, passando antes pelo caixa, onde trocou moedas e notas pequenas por outras de maior valor.

Ainda há civilidade neste planeta.

Eu gostava da Arlequim, agora a respeito muito mais.

domingo, 13 de março de 2011

Lope

Paulo Werneck
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Lope escrevendo, foto de Teresa Isasi
Fonte: saraivaconteudo.com.br

Sou um cinéfilo talvez muito medíocre enquanto cinéfilo. Amo, gosto, detesto os filmes, mas quase nunca me importo em saber quem os dirigiu ou interpretou.

Entretanto vejo a história, me alegro, enterneço, irrito, às vezes aprendo algo. Nunca como pipoca, odeio barulhos e interrupções. Para mim deveria haver só o filme, como uma realidade totalizadora, o mundo virtual tornando-se real e o mundo real, o da platéia, praticamente desaparecendo durante a exibição do filme.

Entretanto, graças à gentileza do Instituto Cervantes e do diretor Andrucha Waddington, assisti a palestra do mesmo sobre o filme Lope, na ocasião ainda não lançado no Brasil, com exibição do making-off.

Palestra emocionante, o diretor explicando algo do processo e tirando, com a maior paciência, as dúvidas da platéia. Relatou as dificuldades de locação (locais onde encenar), o que os obrigou a ir até o Marrocos, fornecedor também, a preços mais em conta, dos adereços de época - pratos, jarras, etc.

Outro ponto interessante é que a trilha sonora foi gravada ao vivo por uma orquestra: com o filme já montado, a orquestra tocou a trilha sonora inteira já sincronizada com o filme. Ou pelo menos foi isso que entendi da palestra do Waddington.

Infelizmente perdi a estréia, mas na primeira ocasião que tive assisti ao filme, que em nada deixou a desejar. Muitíssimo bom. Chega a ser engraçada a avaliação média - 6,3 - dos "críticos" do sítio "The Internet Movie Database". Parece que essa opinião não foi compatilhada pelo povo espanhol, que deu ao filme a terceira maior bilheteria de 2010...

O filme retrata um trecho da vida do poeta Lope de Vega (1562-1635) no início de sua vida adulta, desde o retorno da batalha da Ilha Terceira (havia se alistado na marinha) até seu desterro em 1588, mostrando desde cenas amorosas até de capa e espada. Lope era realmente uma figura, digamos, difícil para os padrões da época e ainda o seria hoje...

Depois, após pequena pesquisa, fiquei sabendo que Andrucha já havia dirigido o sutil e primoroso "Eu, Tu, Eles", um dos melhores filmes que já assisti.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Meu inimigo sou eu

Paulo Werneck

Noé, Mosaico na Basílica de São Marco, Veneza
Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Noah_mosaic.JPG

Com a destruição trazidas pelas chuvas na região serrana do Rio de Janeiro veio também o debate sobre causas e culpados.

Lembrei-me de um pequeno livro, "Meu inimigo sou eu", escrito por Yoram Binur, um jornalista judeu de Israel, que se fez passar por árabe para sentir na pele, correndo risco de vida, os malfeitos dos judeus contra os árabes. Não eram poucos.

Não fiquem agastados os judeus comigo, primeiro porque o jornalista também é judeu, corajoso diria ainda, mas também porque nem foi o primeiro livro nesse sentido: "Cabeça de Turco", do alemão Günter Wallraff, relata como os alemães tratam (ou tratavam) os imigrantes ilegais, fazendo-se passar por um. Esse livro não li. Faltou-me coragem.

O que tem esses livros a ver com as chuvas e as enchentes? A coragem de tirar a culpa do outro, do árabe, do imigrante ilegal, e ver a parcela de responsabilidade que o próprio povo tem pelo que acontece no planeta.

No caso das chuvas há certamente uma parcela de responsabilidade dos governos nos seus efeitos desastrosos: falta de prevenção, falta de fiscalização. Entretanto é muito fácil colocar a responsabilidade nos outros - no caso no governo - e ir dormir com a consciência tranquila do dever cumprido.

Infelizmente as coisas não são assim e não serão resolvidas por nenhum passe de mágica.

Cientistas estão identificando o fenômeno do aquecimento global, mas os intere$$eS econômicos evitam a aplicação das medidas corretivas adequadas. Evitam com o nosso apoio, pois queremos continuar aumentando o nosso conforto, andando de carrão, consumindo desbragadamente, destruindo o planeta.

A ocupação ilegal das encostas também é um problema, em parte decorrente da injusta distribuição de riqueza neste país.

O aumento dos efeitos nocivos das chuvas pode ser decorrente da redução da permeabilidade dos solos, resultado da ampliação de estradas, calçadas, estacionamentos, quintais cimentados, casas e edifícios.

Quando comecei a frequentar o rio Macacu, ele enchia devagar e permanecia cheio muito tempo, porque as águas das chuvas penetravam o solo e iam escoando lentamente para o rio. Agora aumenta e reduz a vazão muito rapidamente: a água vai direto para o rio, não sendo absorvida pela terra.

Disso tudo, a conclusão é que nosso inimigo somos nós mesmos. Temos que mudar nossa relação com o planeta: consumindo menos, reduzindo a produção de lixo (fora descartáveis!), possuindo menos automóveis (ou pelo menos menos potentes), procurando aumentar a justiça social.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Consumidor sem consumir é lixo

Paulo Werneck
Babak Gholizadeh: Grande Bazar, Istanbul
Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Bazaar

Fui a um templo do consumo moderno, o shopping center, com meu filho. Ele precisava de um par de tênis, eu queria um livro e poderíamos lanchar.

Tênis, neca. Não havia o número desejado. Os vendedores insistiram em que ele comprasse um número acima, mas, teimoso, irredutível, se recusou a comprar um par de outro tamanho, diferente do seu.

Também não encontrei o que procurava mas, solto numa loja de livros, acabei encontrando um Dashiell Hammet que não havia relido ainda. Agora sou intelectual, e como todos os intelectuais que se prezam, só releio.

O lanche não teve erro. Encontramo-nos no Chez Michou, que não promete mundos e fundos mas faz corretamente o que se propõe a fazer.

Alguns crepes e chopes depois, hora de voltar para casa. Nesse momento, lojas fechadas, conta paga, deixei de ser um consumidor e tornei-me um ser desimportante e descartável, e, como todos os demais temporariamente não consumidores, fui obrigado a sair pelos fundos e caminhar por uma longa calçada escura até a avenida Lauro Sodré, onde passam os ônibus e os táxis.

Demorarei a voltar a seu um consumidor no Rio Sul. Deixo registrado meu agradecimento aos administradores do shopping pela economia que farei a partir de hoje. Talvez os lojistas que pagam polpudos aluguéis à Brascan não fiquem tão satisfeitos, mas, que fazer, não se pode agradar a todos...

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Viralatas preguiçoso

Paulo Werneck
Morris: Rantanplan

Não sei qual é o cão mais desmiolado do mundo dos quadrinhos, minhas preferências alternando-se entre Rantanplan, do Lucky Luke, e Odie, companheiro de aventuras do Garfield.

Não é de cães, reais ou fictícios, que pretendo falar, e sim da nossa dobradinha nacional: o complexo de viralatas associado à falta de qualquer curiosidade para criticar minimamente a expressão material desse complexo.

Recentemente um conterrâneo postou um lacônico comentário (no "Conversa Afiada", blogue do Paulo Henrique Amorim), que dizia simplesmente "Viva o Brasil, último país a abolir a escravatura!".

Infelizmente não foi o primeiro nem será o último a dizer tal absurdo.

Se pesquisarmos na Wikipedia obteremos as seguintes datas posteriores à da nossa Lei Áurea: Coréia 1894; Madagascar 1896; Zanzibar 1897; China 1910; Tailândia 1912; Nepal 1921; Afeganistão 1923; Iraque 1924; Irã 1928; Serra Leoa 1928; Nigéria 1936; Etiópia 1942; Alemanha Nazista e Japão (nos campos de trabalhos forçados) 1945; Qatar 1952; Tibet 1959; Arábia Saudita 1962; Iêmen 1962; Emirados Árabes Unidos 1963; Omã 1970; Mauritânia 1981.

Podemos observar, por exemplo, que no mítico Tibet havia escravidão sob o governo do Dalai Lama, extinta pelos chineses que o invadiram.

Podemos notar que os civilizados e europeus alemães, bem como os japoneses, com suas tradições zen e códigos samurai, não se vexaram de escravizar pessoas durante a II Guerra Mundial.

Alguém poderá alegar que a Wikipedia não é confiável, mas Alberto da Costa e Silva, autor de "A enxada e a lança", entre tantos outros livros, confirmou algumas dessas datas no prefácio que escreveu para "Formação da Diplomacia Econômica no Brasil", de Paulo Roberto de Almeida.

O fato de termos demorado tanto a acabar com esse regime indigno, que prejudicava não só os cativos, como também nosso desenvolvimento econômico, não justifica a repetição acrítica de inverdades.

domingo, 2 de janeiro de 2011

O Olho de Thundera

Paulo Werneck

Carrasco e rei discutem sobre cortar a cabeça do gato de Cheschire
Aventuras de Alice no País das Maravilhas (1865)
Lewis Carrol
Fonte: www.fromoldbooks.org

Tudo começou com um gato estressado e perdido num corredor de um edifício de apartamentos, sem comida e sem carinho, na véspera do ano novo. Estava agressivo - pudera - e precisava ser levado para algum outro lugar. As tentativas amadoras não estavam surtindo efeito, o gato ficando ainda mais estressado e agressivo. Alguém, ou o gato, acabaria ficando machucado.

Ligo para 156, teleatendimento da Prefeitura de São Paulo, a mais rica e poderosa cidade do Brasil. Uma simpática voz feminina atende, mas nada pode fazer. A prefeitura só remove animais que estejam na rua ou tenham causado ferimentos comprovados. Quem poderia resolver o problema? Não sabe. O telefone dos bombeiros? Também não sabe. Não é a função dela. Pergunto o que fará se a sala de teleatendimento da prefeitura pegar fogo. Também não sabe, óbvio.

No telefone público está registrado o telefone dos bombeiros - 193 - o mesmo em todo o Brasil. A voz masculina que atende é igualmente atenciosa, os bombeiros também não podem ajudar nessa questão, mas indica  outro telefone que poderá ajudar. Não foi preciso, pois ao voltar ao prédio uma faxineira com jeito e um cobertor conseguiu levar o gato para o jardim, de onde ele seguiu seu destino. Um belo gato negro.

Recordo o Olho de Thundera, com visão além do alcance e fico triste ao constatar quantas pessoas se limitam ao estritamente obrigatório. Num mundo em que as fronteiras estão desaparecendo, se autorestringem ao mínimo, à previsível novela, à vidinha medíocre, abandonando qualquer pretensão de ampliação de seus horizontes culturais e, por tabela, profissionais. Tão triste, nas vésperas de um ano que se abre pleno de desafios e oportunidades.