quarta-feira, 27 de junho de 2007

Omissão, Permissividade e Violência

Paulo Werneck

Goya, Los caprichos, El sueño de la razón produce monstruous
Fonte: www.nlm.nih.gov


No ponto, uma mulher, trabalhadora, doméstica, esperava o ônibus. Do carro particular saltam cinco jovens, todos maiores de idade, universitários, classe média alta. Um deles estudante de Direito. Os jovens atacam a mulher, a cobrem de porrada - desculpem o vernáculo menos refinado, mas nada havia de elegante na situação -, sob o olhar de um sexto que permaneceu dentro do veículo, lhe roubam a bolsa e enfim se afastam.

Preso, um dos vagabundos justifica sua ação por ter pensado que a trabalhadora seria uma vagabunda, por prostituta, errando completamente na avaliação: as vendedoras de amor não fazem ponto em pontos de ônibus; a dita vida fácil é a maior dureza; a prostituição é uma atividade lícita; e, pelo menos o estudante de Direito deveria saber, o ordenamento jurídico proíbe o exercício das próprias razões.

Enquanto os meios de comunicação em geral estão em campanha pelo endurecimento das leis e a redução da maioridade penal, tendo como alvo preferencial as crianças miseráveis das favelas, sem infância nem futuro, os jovens da alta fazem das suas, queimando índios ou batendo em mulheres.

O pai de um deles ainda tentou justificar o filho, o que me lembrou que o professor Albus Dumbledore, ao criticar a negligência e crueldade com que Vernon e Petunia Dursdley trataram seu sobrinho órfão, Harry Potter, ressalvou que pior sorte teve o filho deles, tratado sempre com permissividade (J. K. Rowling, Harry Potter and the Half-Blood Prince, London: Bloomsbury, 2005, p. 57).

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Fita Amarela

Paulo Werneck



"Quando eu morrer, não quero choro nem vela, quero uma fita amarela, gravada com o nome dela". Noel Rosa não estava pensando no poste da Avenida Rui Barbosa, em frente ao número 664.

Esse poste, ou o que sobrou dele, não se sabe se é municipal, estadual ou federal. O fato é que estão faltando dois pedaços graúdos na base, e não precisa ser gênio para perceber que seu equilíbrio é precário, e quem passa por perto corre risco de vida.

Chamada por algum observador mais atento, chegou a Defesa Civil, com sua fita amarela, remédio para todos os males. Bloqueou a calçada, forçando os moradores a enfrentar o risco de atropelamento, mais imediato, e foi embora para nunca mais voltar.

O poste continua em pé, a fita no chão, o poder público ausente. Quando ele finalmente cair, será um acidente?

sábado, 2 de junho de 2007

O Rio Fede

Paulo Werneck
© Emir Bosnic.
Banheiro público na cidade Lijiang, provincia Yunan, China, janeiro de 2007.

O alcaide César Maia, inspirado no seu colega novaiorquino, um dia, procurando criar mais um factóide, defendeu a tolerância zero e ameaçou os mijões com duras penas. Palavras, o vento as levou. Ações, nada.

Querendo, em vez de alardear recursos em caixa e, ao contrário do que fazem as outras metrópoles, esburacar o centro da cidade para entupi-la de mais carros, poderia imitar o império do meio que possui mictórios públicos, limpos e gratuitos, em todas as cidades e aldeias, e disseminá-los pela cidade.

O fotógrafo, que graciosamente me cedeu a foto, ficou impressionado com a aparência dos banheiros públicos chineses: pareciam "boutiques".